O Draft é o evento da NBA em que os novos jogadores (geralmente vindo da universidade ou de outros países) são selecionados pelos times. Como todos sabem, o draft deste ano promete. Muitos jogadores nem estrearam na NBA ainda e já estão sendo apontados como futuras lendas: Andrew Wiggins, Jabari Parker, Joel Embiid, Julius Randle, dentre outros. Isto tem levado os torcedores de algumas franquias até mesmo a torcer por um “tank” (perder de propósito para conseguir uma boa posição no draft). Porém, será que uma campanha ruim garante mesmo uma boa pick? Compensa torcer pro seu time perder?
A loteria do draft não é tão simples como parece: o time de pior campanha não necessariamente garante a primeira escolha.
Primeiramente, é necessário ter em mente que nem sempre o fato de um time ter uma “pick” (uma escolha) significa que aquele time poderá de fato trazer um jogador. Por exemplo: em 2011, o Clippers foi sorteado para ter a primeira escolha do draft. Porém, a pick time angelino havia sido trocada para o Cavs. Por isto, o Cavs teve o direito de escolha e trouxe Kyrie Irving. (Isto certamente teria sido muito doloroso pro Clippers, se logo em seguida eles não tivessem contratado Chris Paul)
Pois bem, a loteria do draft (sorteio da ordem das escolhas) geralmente ocorre em maio, e funciona da seguinte maneira:
– As primeiras 14 picks são dos times que ficaram de fora dos playoffs. As demais escolhas de primeiro e segundo round são distribuídas na ordem da pior para a melhor campanha.
– 14 bolas de ping-pong, cada uma com um número de 1 a 14, são colocadas em uma “máquina de loteria”.
– São sorteadas 4 bolas, formando uma combinação de 4 números. A ordem em que elas foram sorteadas não importa (3-4-1-2 é a mesma coisa que 1-2-3-4).
– Se você for bom em matemática, verá que, no total, existem 1.001 combinações possíveis para o sorteio de 4 bolinhas. Dessas, a combinação “11-12-13-14” (em qualquer ordem que seja) é descartada. Assim, existem, no total, 1.000 combinações possíveis.
– A cada um dos 14 times é designada uma certa quantidade de combinações. O time que for o dono da combinação sorteada fica com a escolha.
Este processo só é utilizado para sortear as 3 primeiras escolhas; nas demais, a ordem da escolha é determinada pela campanha da equipe (na ordem da pior para a melhor campanha).
Agora, chegamos ao seguinte ponto: qual é a vantagem matemática de ter a pior campanha?
A vantagem é que os times de pior campanha recebem mais combinações, e portanto têm mais chances matemáticas de conseguirem uma das 3 primeiras escolhas. As combinações são distribuídas da seguinte maneira, da pior para a melhor campanha:
1 (pior campanha): 250 combinações (25% de chance de receber a primeira escolha)
2: 199 combinações (19.9%)
3: 156 combinações (15.6%)
4: 119 combinações (11.9%)
5. 88 combinações (8.8%)
6. 63 combinações (6.3%)
7. 43 combinações (4.3%)
8. 28 combinações (2.8%)
9. 17 combinações (1.7%)
10: 11 combinações (1.1%)
11: 8 combinações (0.8%)
12: 7 combinações (0.7%)
13: 6 combinações (0.6%)
14: 5 combinações (0.5%)
Ou seja, ter a pior campanha não garante que o seu time terá a melhor escolha. Na verdade, a pior campanha só garante, no máximo, a quarta melhor escolha (já que o processo acima só é utilizado para as três primeiras escolhas). E a história mostra isto claramente, visto que a última vez em que o time de pior campanha ficou com a primeira escolha foi há exatos 10 anos:
2013: Cavs, 3a pior campanha
2012: Hornets, 4a pior campanha
2011: Clippers, 8a pior campanha (pick trocada para o Cavs)
2010: Wizards, 5a pior campanha
2009: Clippers, 3a pior campanha
2008: Bulls, 9a pior campanha
2007: Blazers, 7a pior campanha
2006: Raptors, 5a pior campanha
2005: Bucks, 6a pior campanha
2004: Orlando, pior campanha
Resumindo: uma campanha ruim não necessariamente garante um futuro brilhante. Na verdade, no caso dos Lakers, muita coisa tem que mudar, e dificilmente um calouro sozinho conseguirá promover esta mudança sozinho.
E você? Está torcendo pro Lakers ganhar ou perder? Acha válido um time perder de propósito pra garantir uma boa posição no draft? E qual calouro você gostaria de ver no Lakers? Deixe sua opinião aí nos comentários!
Fontes:
Lakers até pode conseguir uma boa escolha no Draft desse ano, mas acho melhor foca nos Free Agents do ano que vem. Carmelo Anthony é um que gostaria de ver no Lakers.
Bom artigo.
O que não entendo (e gostaria que me explicassem) é que havendo tantos jogadores bons na NCAA, porque apenas menos de 100 são draftados? Afinal 5 jogadores, ao menos, por 68 Universidades, representa 340 jogadores. Destes apenas 60 são draftados? E o resto, muda de profissão? Os times são “obrigados” a comprar jogadores do exterior. Pelas minhas contas são 450 jogadores na NBA e destes 100 são estrangeiros. Em alguns anos serão a metade.
Oi DeLucca,
Muito obrigado pelo comentário!
De fato, a porcentagem de jogadores da NCAA que vai parar na NBA pode parecer relativamente pequena, como você apontou. Por outro lado, se pararmos para analisar, seria insustentável draftar um número muito maior que este.
De acordo com as regras da liga, cada time tem um limite máximo de 12 jogadores no seu roster no início da temporada (veja o link: http://www.nba.com/analysis/00421026.html). Embora possa haver casos excepcionais (por exemplo, se um jogador se contundir, ele pode ir para a “lista de contundidos”, e o time pode trazer um novo jogador ao roster), isso nos dá aproximadamente 360 jogadores ativos na NBA.
A quantidade de jogadores entrando na liga deve ser semelhante àquela de jogadores saindo, para que o número total possa se sustentar. Os únicos jogadores que “saem” da NBA são aqueles que (i) se aposentam, (ii) vão jogar no exterior, ou (iii) vão para a D-League. Assim sendo, não parece tão absurdo que “apenas” 60 jogadores sejam draftados por ano.
Vale lembrar ainda que alguns dos jogadores draftados sequer vão para a NBA: alguns chegam a treinar com as equipes principais, mas depois são enviados para a D-League.
Os times não são “obrigados” a comprar jogadores do exterior; de fato o mercado americano oferece inúmeras opções (tanto no draft quanto na D-League), mas muitas vezes a contratação de estrangeiros se apresenta como uma boa opção. Isso, é claro, sem contar os estrangeiros que são draftados (como o Porzingis, no draft passado). Muitos experts defendem que a vinda de estrangeiros também agrega valor ao jogo devido ao fato de o estilo de jogo em outros países ser diferente (geralmente, mais técnico e menos físico). Nos últimos 2 anos, havia ao menos 100 estrangeiros no roster (www.nba.com/2015/news/10/27/nba-rosters-feature-100-international-players/), dos quais 9 brasileiros. No início da temporada 2015-16, cada time possuía ao menos um estrangeiro no roster.
Quanto ao “resto” dos jogadores da NCAA que NÃO são draftados, como você questionou, isso de fato é um problema enorme, que já foi debatido diversas vezes pela mídia.
Devido à intensa rotina de treinos e jogos durante a universidade, os jogadores mal têm tempo de estudar; assim, não conseguem um desempenho muito bom nos estudos. Além disso, é contra as regras da NCAA dar qualquer compensação financeira aos jogadores. Ou seja, eles têm uma base de estudos fraca, trabalham de graça para a liga, e se não forem draftados (ou ainda se ficarem contundidos durante a universidade), estão “largados” no mercado de trabalho sem dinheiro e sem preparação. É absurdo.
Este vídeo (em inglês) tem um cunho um pouco humorístico, mas demonstra muito bem a situação: https://www.youtube.com/watch?v=pX8BXH3SJn0
Por último, cabe lembrar que muitos jogadores desempenham bem na NCAA, dão até mesmo a impressão de que serão excelentes da NBA, mas na prática esse não é o caso. Basta lembrar que Kwame Brown foi 1st pick em 2001, à frente de Tyson Chandler, Pau Gasol, Joe Johnson, Zach Randolph…
Abraços!